Marisa fará aumento de capital privado em cerca de R$ 550 milhões, dizem fontes
Pelas conversas em andamento, o aumento de capital deverá ser bancado pela família Goldfarb, que controla a varejista, segundo fontes
Em crise, a varejista Marisa terá que recorrer a um aumento de capital privado de aproximadamente R$ 550 milhões para recompor seu balanço, apurou o Valor. Com isso, a companhia deixa de lado a possibilidade de uma oferta subsequente de ações (follow-on), pouco tempo depois de ter engajado bancos para a transação.
Pelas conversas em andamento, o aumento de capital deverá ser bancado pela família Goldfarb, que controla a varejista, segundo fontes. Um dos interlocutores disse que parte dos recursos deve ser utilizada para pagar notas promissórias emitidas pela companhia, que teriam sido compradas pela própria família, o que foi necessário para sustentar o capital de giro.
Além do mercado volátil que tem tornado o ambiente inóspito para oferta de ações, uma questão que travou a saída de capitalização por meio de uma emissão de ações na bolsa teria sido o teor do parecer dos auditores em seu último balanço, disse fonte próxima da companhia, que falou na condição de anonimato. A varejista já convocou assembleia geral para aprovar o aumento do capital, o que ocorrerá no inicio de junho.
Em 18 de março, a varejista contratou o BTG Pactual e o Itaú BBA para ver se era possível estruturar um oferta pública subsequente de distribuição exclusivamente primária. “Não teve demanda e tiveram que mudar os planos. O relatório dos auditores sobre os números [do quarto trimestre] não impede legalmente um follow-on, mas afastou investidores”, diz uma fonte a par das tratativas.
Em reestruturação desde o ano passado, a Marisa buscou cortar despesas e focar em aumento de caixa e redução de endividamento, mas tem dificuldades de obter créditos no mercado. Neste ano, tenta voltar a gerar vendas e melhorar eficiência operacional, mas admite problemas. Em relatório da administração, afirma que não atingiu resultados operacionais e na estrutura de capital da empresa em 2023.
Acabou gerando menos caixa nas atividades operacionais, e nas atividades de financiamento, recebeu menos recursos em empréstimos em 2023 versus 2022 — num cenário de risco maior —, o que tem exigido que os controladores busquem outras formas de conseguir capital.
Ressalvas e risco de continuidade
Conforme o Valor informou no fim de abril, os auditores da rede Marisa apontaram em balaço do quarto trimestre de 2023, pelo segundo ano consecutivo, incerteza relevante relacionada à continuidade operacional da empresa. O balanço ainda recebeu ressalva da equipe da EY, por conta de uma classificação de perdas em ações na Justiça.
A justificativa formal nesses casos é que há aspectos que não apresentaram, de forma adequada, a posição patrimonial e financeira da companhia.
No caso da Marisa, a M. Serviços (anteriormente M. Cartões) possui processos judiciais e administrativos e tenta anular autos de infração. Os autos alegam omissão de receita tributável nos anos de 2011, 2012 e 2015, que deveria ter a cobrança de imposto de renda e contribuição social.
Esse autos não foram registrados porque o comando entendeu que a probabilidade de perda é possível. A EY discorda e entende que há perda provável, com base em critérios de classificação contábil. Já a cadeia avalia que a perda é possível baseada em avaliações legais da área jurídica.
No fim das contas, por causa disso, a EY entende que o prejuízo de 2023 estaria subavaliado em quase R$ 18 milhões.
Sobre a continuidade operacional, a equipe de auditores justificou o risco frente a indefinições sobre o posicionamento do Banco Central, relativo a um pedido da empresa, e pela piora na relação entre passivo e ativo circulantes.
A auditoria chama a atenção para o fato de o passivo circulante consolidado da rede ter excedido o ativo em R$ 664,8 milhões em 31 de dezembro. No ano anterior, havia capital circulante líquido positivo de R$ 130,8 milhões.
Quando o passivo circulante supera o ativo, significa dizer que o total de dívidas de curto prazo, com vencimento em até 12 meses, como impostos, salários de empregados, aluguel e pagamento de fornecedores, supera o total ativo circulante, que são os recursos financeiros disponíveis da empresa para pagar dívidas e despesas.
A EY chama a atenção para o fato de o BC ainda não ter autorizado a varejista a cancelar o funcionamento da controlada indireta MPagamentos, após a empresa ter se desenquadrado dos limites operacionais mínimos requeridos pelo BC.
Procurada, Marisa não comentou até o momento.
Fonte: Valor Econômico