Abrafarma contesta entrada do Mercado Livre e acirra debate sobre venda de medicamentos online
A entrada do gigante do comércio eletrônico Mercado Livre no varejo farmacêutico brasileiro desencadeou uma forte reação da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), que intensificou sua oposição à venda de medicamentos por meio de marketplaces. A controvérsia ganhou novos capítulos após o Mercado Livre negar a omissão de informações ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre seus planos para o setor.
O ponto central da discórdia é a aquisição da farmácia Cuidamos Farma (nome fantasia Target), em São Paulo, por uma subsidiária da Kangu, empresa de logística do Mercado Livre. Para a Abrafarma, a operação é uma estratégia para que a plataforma obtenha a autorização sanitária e a presença de um farmacêutico responsável, requisitos essenciais para a comercialização de medicamentos que até então não possuía.
Em comunicado oficial, a associação que representa as grandes redes de farmácias do país reiterou sua posição e destacou trechos de um dossiê enviado ao Cade. No documento, a entidade argumenta que a operação não deveria resultar em sobreposição no varejo farmacêutico, nem em uma integração vertical com o varejo multiprodutos online, que exige autorizações regulatórias específicas.
O CEO da Abrafarma, Sergio Mena Barreto, alerta para o risco de a aquisição aproximar as operações do Mercado Livre com as da Memed, plataforma de prescrição médica digital e antiga controladora da Cuidamos Farma. "O Mercado Livre poderia, assim, iniciar a venda online de medicamentos com respaldo regulatório", afirmou Barreto, ressaltando que a segurança do consumidor está em jogo e que os marketplaces necessitam de uma regulação e fiscalização mais rigorosas para atuar com produtos de saúde.
O posicionamento do Mercado Livre
Em sua defesa, o Mercado Livre negou qualquer irregularidade ou omissão de informações ao Cade. A empresa afirma que seu objetivo é atuar no setor farmacêutico por meio do modelo de marketplace, conectando farmácias e consumidores, o que, segundo a companhia, aumentaria a concorrência em um mercado "altamente concentrado" e ampliaria o acesso a medicamentos.
Executivos da empresa argumentam que a regulação atual, que não prevê a venda de medicamentos por marketplaces, precisa ser modernizada para refletir a realidade tecnológica. Eles defendem que o modelo digital pode beneficiar tanto os consumidores, com melhores preços e condições, quanto as pequenas e médias farmácias, que ganhariam escala e capilaridade. O Mercado Livre já opera nesse modelo em outros países da América Latina, como México, Argentina, Chile e Colômbia.
Próximos passos
A Abrafarma já solicitou no Cade a reavaliação da aprovação da compra da Cuidamos Farma. O caso está sob análise do órgão, que decidirá sobre os próximos passos da disputa. O embate entre a gigante do e-commerce e as tradicionais redes de farmácias promete moldar o futuro da venda de medicamentos no Brasil, levantando um importante debate sobre regulação, concorrência e o acesso da população a produtos de saúde na era digital.
Fonte: Panorama Farmacêutico
Foto: Divulgação